terça-feira, 15 de janeiro de 2013

sobre vinhos e escovas de dente

até hoje eu guardei sua escova de dentes, na esperança de que talvez, só talvez, você pudesse voltar a querer usá-la.
até hoje eu realmente achei que você podia se importar.
até hoje eu guardei aquele vinho que você gostava pra, quem sabe, a gente ter a chance de tomar juntos.

até hoje.

sua escova de dentes, joguei fora.
e o vinho, está na minha taça, em frente a mim.
e posso dizer uma coisa: nunca me pareceu tão bom.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

sonhos

Essa noite sonhei contigo. Na verdade, eu tenho feito isso quase diariamente, mas o de hoje foi diferente. Sonhei que estávamos deitados, na minha cama, como fazíamos, vendo algum filme na TV (tenho a impressão que era Manhattan, do Woody Allen - um dos meus TOP 5 de todos os tempos, aliás). Abraçados. E eu me sentia bem, confortável, ou como você dizia, "feels like home". 



Acho que foi por causa do nosso último encontro (previsto por mim, talvez inesperado pra você). Todo o gelo que inundou o lugar e que nos afastava talvez me tenha feito compensar no mundo onírico. E se você realmente tem a habilidade de ver através das pessoas, fez isso comigo. 

Exorcizar demônios. 

Acordei no meio da madrugada com ventos fortes e abraçado a um travesseiro. Antes que pudesse me dar conta, chorei sozinho no escuro.

sábado, 8 de dezembro de 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

e eu só queria que você soubesse de algumas coisas, afinal de contas. que eu amo o jeito que você dança, como você se movimenta. é engraçado, pois você é pesado, mas ao mesmo tempo, leve como uma pluma. eu adoro os seus erros de português, o que em qualquer outra pessoa seria inaceitável, mas em você e com seu sotaque estrangeiro, é fofo. que eu adorei deitar na grama naquele dia frio, em canela, e ficar com você debaixo das cobertas, olhando as estrelas e tomando vinho. que você me divertia quando deixava o carro morrer porque não sabe dirigir com câmbio manual. que aquele dia nos viram pela varanda.

que eu gosto tanto de você que ignorei completamente todos os sinais de alerta. que, mesmo sabendo do futuro incerto (ou certo), eu me dispus. porque eu quero viver. mesmo que às vezes pareça o contrário, quando eu fumo demais e você brigava comigo. que a gente discutia sobre inteligência das máquinas, que você é de aquário e eu pisciano - logo, estou sempre dentro de você. que a gente dançou jazz na cozinha tomando vinho enquanto eu preparava a janta, ao mesmo tempo que tentava recuperar sua carteira perdida dentro daquele táxi, enquanto você fazia ligações internacionais pra cancelar seu cartão de crédito.

que meus cafés na cafeteria nunca mais serão os mesmos. as tardes de domingo no parque com minha cadela também não. que ontem, enquanto eu ouvia você, eu morria por dentro. que eu descobri que não sei discutir relação em inglês. que eu não podia dizer o que você talvez queria ouvir, mesmo sabendo como dizê-las no seu idioma. que eu não podia pedir pra você ficar. que eu me apaixonei por você justamente pelas nossas diferenças. e que eu vou superar, claro. a gente sempre supera. que quando eu saí sem olhar pra trás e entrei no táxi, eu chorei imediatamente ao fechar a porta. mas porta quem tinha fechado era você.

eu só queria que você soubesse de muitas outras coisas. mas você nunca vai ler isso aqui. nem eu vou ler de novo pra postar.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sobre cactos e xícaras


E no meio da confusão, decidi fazer um café. Cheiro de café novo sempre me deixa feliz. Ainda por cima, acompanhado de um bom queijo minas – estado, aliás, onde nasci e passei grande parte do tempo que me transformou em quem sou hoje. Pois bem, passei o café, lembrei que tinha trazido na mala recém-desfeita um queijo minas. Cortei um pedaço e temperei como gosto: com uma pitada de sal e azeite. Coloquei café na xícara até a metade. Na tevê, um filme sobre prédios e como eles influenciam na forma como as pessoas vivem em grandes cidades. Fui pra sacada, me sentei, uma xícara na mão, um pratinho com queijo picado, e acendi um cigarro. Estava anoitecendo. Eu adoro os fins de tarde em Porto Alegre, a propósito. Na rua, as pessoas passavam a pé, ou dentro de suas carapuças de aço, meio que blindadas. Reparei que os caminhantes usavam fones de ouvido, e isso, de certa forma, também os blindava do exterior.

Enquanto tomava meu café, reparei que a asa da minha xícara tinha exatamente o formato de um coração pela metade.

*

Acho os cactos plantas fascinantes. Não exigem muitos cuidados, crescem até nos ambientes mais inóspitos e não precisam tanto assim de água – elemento fundamental à vida, segundo os cientistas – para existir. Pelo contrário, já que são plantas típicas de lugares desérticos. E como são diversos! Existem de todos os tipos e cores, e ainda se arriscam a florescer. São de uma beleza incompreensível a um olhar mais apressado, e não encantam como as frágeis orquídeas. Não perfumam, mas tem uma “aura” de auto suficiência de dar inveja. O mais curioso é que, se cortado, o cacto verte de seu interior exatamente aquilo que mais lhe falta. Tudo isso blindado (novamente) por espinhos.

*

terça-feira, 2 de agosto de 2011

vida noturna


Em qualquer cidade média/grande como Porto Alegre, você consegue sem se esforçar muito ter boas opções de entretenimento e vida noturna por no mínimo 5 dias por semana. Mas quando o fim de semana chega – às vezes até antes dele – é que as boas festas acontecem. Uma verdadeira maratona. De quinta a domingo, é fácil perceber a movimentação e expectativa existente em torno das baladas. Caixa de entrada do Facebook abarrotada de convites, o pessoal no Twitter comentando ansiosos sobre as festas, DJs animados anunciando que o setlist está pronto pra bombar a pista de dança, e avisando: só fica em casa quem for ruim da cabeça ou doente do pé.

E quando eu me pego em casa numa noite fria de sábado, sem a menor paciência para colocar o nariz na rua, eu começo a pensar se o meu desinteresse em relação a uma vida noturna badalada, ser um partyboy, é sintoma de uma velhice prematura, ou é a desilusão de quem conhece a noite – já tive a fase de sair de quinta a domingo, nos idos 20 anos – e sabe que, não importa a cidade, quando se trata de vida noturna, o script é basicamente o mesmo: ambientes minúsculos, abarrotados de gente, bares pequenos e caros, um empurra-empurra generalizado, pessoas bêbadas derramando álcool na sua roupa e não raramente vomitando pelos cantos.  E isso sem falar nas filas: fila pra entrar, fila pra ir ao banheiro, pra pegar bebida, para pagar a conta, para sair da casa, pra conseguir um táxi. Se você for alguém VIP na noite, pule essa parte da entrada, mas inevitavelmente, você estará sujeito às outras. Aposto uma rodada de cerveja que todo mundo já passou por situações acima.


E foi assim que eu me lancei no Twitter em busca de respostas a este meu questionamento. Embora tenha sido em uma hora não muito propícia – afinal, os que estavam na rede eram exatamente os que compartilhavam da mesma opinião que eu – pude obter algumas respostas esclarecedoras por parte dos que estavam ainda se preparando para curtir a noite. A maioria dos que responderam já tinham passado dos vinte anos, como eu, e preferiam uma boa noite com amigos em casa, ouvindo boa música e até mesmo (para o horror do pessoal festeiro) se divertindo com jogos de tabuleiro, do que se aventurar em baladas imperdíveis. Entretanto, entre as pessoas que achavam inadmissível uma pessoa de 29 anos passar a noite em casa aos fins de semana, todos foram unânimes: deve ter algo de errado comigo. Questionei sobre as motivações que os levam a frequentar a noite, e pude perceber em uníssono, embora confessadas via DM, as respostas: rever os amigos, dançar, e, quem sabe, encontrar alguém especial. Ou seja, amor. Mesmo que o encanto só dure uma noite e desapareça no raiar do dia.

Percebo nisso uma contradição. Qualquer pessoa com um mínimo de experiência em baladas sabe que a probabilidade de se conhecer alguém realmente bacana na noite e que não desapareça com a luz do dia é tarefa comparável a achar uma agulha num palheiro. Começo a pensar se não é exatamente este o objetivo de quem ainda pode ser chamado teen ou que mal saiu dessa categoria. Será que o interesse nessas atividades é inversamente proporcional a idade e a vontade de achar o amor-da-sua-vida-de-uma-noite? Disso tudo, dá pra perceber algo em comum: a busca pelo que supre a necessidade amorosa-sexual em cada momento da vida. Mas isso é assunto pra um próximo post...