segunda-feira, 19 de abril de 2010

sobre o que se pensa quando se é jovem demais


então vamos falar de prazos. prazos que na maioria das vezes não são cumpridos.

não falo de prazos pra entrega de trabalhos, ou dos milhões de artigos que devem ser escritos. falo de prazos de vida. aqueles planos que fazemos quando temos 20 anos, pra quando tivermos 30.

uma vez eu realmente acreditei que aos 30 eu estaria muito bem empregado, com um carrão importado na garagem e dinheiro pra dar e emprestar. vã ilusao de quem entra na faculdade cedo. parêntesis: não se deveria entrar na faculdade cedo. a possibilidade de erros serem cometidos é imensa. fecha parêntesis.

um dia eu fiz planos sobre onde queria estar em 10 anos. e lá se vão 8 - faltam dois. mas não tenho mais essa esperança. sei que aos 30, se eu estiver em vias de terminar meu mestrado, está de bom tamanho. certa vez ouvi uma frase num filme que diz tudo: "com o passar dos anos, você deixa de ter deadlines". e a gente vai adiando os planos, tentando se virar como pode e com o que a gente tem.

e, opa, mais desce aí mais uma cerveja com os amigos - enquanto isso a gente tenta se divertir como dá e esquecer essa vidinha de merda. é a faculdade que não me deixa colar grau. são as roupas de frio pegando cheiro de guardadas no armário, sendo que já eram pra estar sendo usadas. a passagem aérea que já foi trocada três vezes. o coração que você tem que deixar pra tras se quiser tentar ser alguém na vida - na verdade, dois corações, porque o seu fica aqui também.

a vida é feita de escolhas. e eu pareço ter predileção pelas erradas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

sobre cafés e cigarros


Ele deu um trago no cigarro como um meio de evitar as palavras. Assim, mantinha a boca ocupada enquanto o outro falava. E a cada frase que chegava aos seus ouvidos, era impossível não se lembrar das tantas vezes que já havia estado do outro lado. Mais um gole no café quente. Talvez aqueça o frio daquele dia. Talvez a fumaça que saía da xícara pudesse penetrar no outro e fazê-lo mudar de ideia. Mas não, a cada minuto seu café ficava mais frio, e não dava mais conta de protegê-lo dessa sensação desastrosa que é ouvir um “o problema não é com você, é comigo”.

Logo ele, sempre acostumado a ser quem dá a palavra final. Inclusive, veja que ironia, ele já tinha usado essa frase clássica algumas dezenas de vezes. Mas dessa vez, o tom parecia diferente. Não que fosse de fato: a verdade é há uma grande diferença entre dizer e ouvir. Dizer sempre dói menos. E ele desconhecia essa dor. “Bem vindo ao mundo dos de carne e osso” – por um momento pensou ter ouvido alguém dizer.

*