E
no meio da confusão, decidi fazer um café. Cheiro de café novo sempre me deixa
feliz. Ainda por cima, acompanhado de um bom queijo minas – estado, aliás, onde
nasci e passei grande parte do tempo que me transformou em quem sou hoje. Pois
bem, passei o café, lembrei que tinha trazido na mala recém-desfeita um queijo
minas. Cortei um pedaço e temperei como gosto: com uma pitada de sal e azeite.
Coloquei café na xícara até a metade. Na tevê, um filme sobre prédios e como
eles influenciam na forma como as pessoas vivem em grandes cidades. Fui pra
sacada, me sentei, uma xícara na mão, um pratinho com queijo picado, e acendi
um cigarro. Estava anoitecendo. Eu adoro os fins de tarde em Porto Alegre, a
propósito. Na rua, as pessoas passavam a pé, ou dentro de suas carapuças de
aço, meio que blindadas. Reparei que os caminhantes usavam fones de ouvido, e
isso, de certa forma, também os blindava do exterior.
Enquanto
tomava meu café, reparei que a asa da minha xícara tinha exatamente o formato
de um coração pela metade.
*
Acho os cactos plantas fascinantes. Não exigem muitos cuidados, crescem até nos
ambientes mais inóspitos e não precisam tanto assim de água – elemento fundamental
à vida, segundo os cientistas – para existir. Pelo contrário, já que são plantas típicas de lugares desérticos. E como são diversos! Existem de todos os
tipos e cores, e ainda se arriscam a florescer. São de uma beleza
incompreensível a um olhar mais apressado, e não encantam como as frágeis
orquídeas. Não perfumam, mas tem uma “aura” de auto suficiência de dar inveja. O mais curioso é que, se cortado, o cacto verte de seu interior
exatamente aquilo que mais lhe falta. Tudo isso blindado (novamente) por
espinhos.
*